terça-feira, 4 de agosto de 2015

Economia numa única lição



(...) " A política de inflação, conforme disse, é parcialmente imposta por si mesma. Passados mais de quarenta anos após a publicação de 'General Theory' por John Maynard Keynes, e mais de vinte anos após esse livro ter sido inteiramente desacreditado pela análise e experiência, um grande número de nossos políticos está, ainda, incessantemente recomendando mais déficit, a fim de melhorar ou reduzir o desemprego existente. Uma espantosa ironia é que eles estejam fazendo estas recomendações, quando o governo federal já vem rolando um déficit de quarenta e um sobre os últimos quarenta e oito anos e quando este déficit alcançava dimensões de US$50 bilhões ao ano. 

Uma ironia ainda maior é que, não satisfeitos em seguir estas políticas desastrosas no país, nossos representantes têm criticado outros países, principalmente Alemanha e Japão, por não seguirem essas políticas “expansionistas”. Isto nos faz lembrar, nada menos, da raposa de Esopo, que, quando perdeu sua cauda, persuadiu todas as raposas suas companheiras a, também, cortarem as suas.

Um dos piores resultados da retenção dos mitos keynesianos é que, não apenas fomenta uma inflação cada vez maior, como também, sistematicamente, desvia a atenção das causas reais de nosso desemprego, tais como índices de aumento salarial excessivos fixados pelos sindicato , leis de salário mínimo, seguro desemprego excessivo prolongado e pagamentos de seguro social super generosos. 

Mas a inflação, embora em parte frequentemente discutida, é hoje, principalmente, a consequência de outras intervenções econômicas governamentais. Em resumo, é a consequência do Estado de Redistribuição— de todas as políticas de desapropriação do dinheiro de Pedro a fim de dá-lo, generosamente, a Paulo. 

Este processo seria mais fácil de reconhecer e seus efeitos perniciosos mais fáceis de serem expostos, se fossem todos efetuados segundo um único padrão— como a renda anual garantida, proposta agora e seriamente considerada pelos comitês do congresso no início da década de 1970. Esta foi uma proposta para taxar, ainda mais implacavelmente, todas as rendas acima da média e transferir o lucro para todos aqueles que vivem abaixo de um denominado nível mínimo de pobreza, a fim de lhes assegurar uma renda, quer estejam inclinados a trabalhar ou não “para dar-lhes condições de viver com dignidade”. Seria difícil imaginar um plano mais claramente calculado para desencorajar trabalho e produção e, consequentemente, empobrecer todo o mundo. 

Mas, em vez de decretar uma única medida como essa, e precipitar a ruína num único golpe, nosso governo tem preferido aprovar uma centena de leis que realizam tal redistribuição numa base parcial e seletiva. Estas medidas podem não atingir inteiramente alguns grupos muito necessitados; mas, por outro lado, podem descarregar sobre outros grupos uma dúzia de diferentes espécies de benefícios, subsídios e outras vantagens. Estas incluem, para dar uma lista ao acaso: seguro social, serviço de assistência médica, atendimento mé- dico, seguro-desemprego, subsídios para alimentos, benefícios para veterano, subsídios agrícolas, moradia subsidiada, subsídios para aluguel, merenda escolar, emprego público por contrato de tarefa, auxílio a famílias com filhos dependentes, e assistência social direta de todas as espécies, inclusive auxílio aos idosos, cegos e inválidos. O governo federal calculou que, nestas últimas categorias, tem distribuído benefícios de auxílio federal para mais de quatro milhões de pessoas, sem contar o que os estados e cidades vêm fazendo. 
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Conforme já mencionei, essas inflações, a causa, em si mesmas, de tanta miséria humana, foram, por sua vez, em grande parte, a consequência de outras políticas de intervenção econômica governamental. Praticamente, todas essas intervenções ilustram e dão ênfase, despretensiosamente, à lição básica deste livro. Todas se desenvolveram na suposição de que ofereciam algum benefício imediato a algum grupo especial. Todos os que as aprovaram, esqueceram-se de levar em conta as consequências secundárias, esqueceram-se de considerar qual seria seu efeito, a longo prazo, em todos os grupos. 

Em resumo, no que concerne aos políticos, a lição que este livro tentou introduzir, há mais de trinta anos atrás, não parece ter sido aprendida em parte alguma. 

Se examinarmos os capítulos deste livro, um após outro, não descobriremos, praticamente, forma alguma de intervenção governamental desaprovada na primeira edição que não esteja ainda sendo adotada, normalmente, com obstinação reforçada. Em todas as partes, os governos estão ainda tentando remediar, com construções públicas, o desemprego causado por suas próprias políticas. Estão taxando impostos mais pesados e mais expropriadores que nunca. Recomendam, ainda, expansão de crédito. A maioria deles ainda considera “emprego integral” sua meta de governo. Continuam a impor quotas de importação e tarifas de proteção. 

Tentam aumentar as exportações desvalorizando, ainda mais, sua moeda. Agricultores estão ainda “fazendo greve” por “preços de paridade”. 

Governos ainda fornecem incentivos especiais para indústrias sem rentabilidade. Ainda se esforçam para “estabilizar” preços de produtos especiais. 

Governos, forçando a alta de preços dos produtos, inflacionando sua moeda, continuam a responsabilizar os produtores, comerciantes e “aproveitadores” particulares pelos preços mais altos. Impõem preços máximos para o óleo e gás natural, a fim de desestimular nova exploração, exatamente quando ela mais necessita ser incentivada, ou recorrem ao tabelamento ou “controle” dos preços e salários em geral. Persistem no controle de aluguel apesar da evidente devastação que ele causa . Não apenas mantêm as leis do salário mínimo, mas continuam aumentando seus níveis, em vista do crônico desemprego que tão evidentemente provocam. Continuam decretando leis que concedem privilégios especiais e imunidades aos sindicatos de trabalhadores; para obrigar os trabalhadores a tornarem-se associados, para tolerar os piquetes de grevistas e outras formas de coerção; e para compelir os patrões a “negociarem coletivamente em boa fé” com esses sindicatos, isto, é, fazer pelo menos algumas concessões a suas exigências. A intenção de todas estas medidas é “ajudar o trabalhador”. Mas o resultado, uma vez mais, é criar e prolongar o desemprego, e baixar os pagamentos de salário no total, comparados com o que podiam ter sido. 

Muitos políticos continuam a ignorar a necessidade de lucros, para superestimar o montante líquido total ou médio, para denunciar lucros não comuns em alguma parte, para tributá-los excessivamente e, às vezes, mesmo para lamentar a verdadeira existência de lucros. 

A mentalidade anticapitalista parece mais profundamente impregnada do que nunca. Sempre que há qualquer demora no negócio, agora os políticos veem como causa principal o “gasto insuficiente do consumidor”. Ao mesmo tempo que encorajam maior gasto pelo consumidor, aumentam cada vez mais as dificuldades e penalidades, a fim de economizar e investir. Hoje, o principal método de fazer isto, conforme já vimos, é aplicar na inflação, ou acelerá-la. O resultado é que, hoje, pela primeira vez na história, nenhuma nação tem um padrão-metal, e praticamente todas as nações estão iludindo seu próprio povo, com emissões de papel-moeda cronicamente depreciado.
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Em resumo, o principal problema que enfrentamos hoje não é econômico, mas político. Bons economistas estão inteiramente de acordo a respeito do que deve ser feito. Praticamente todas as tentativas governamentais para redistribuir riqueza e renda tendem a reprimir os incentivos de produção e a levar ao empobrecimento geral. Cabe à própria esfera de governo criar e fazer cumprir uma estrutura de lei que proíba força e fraude. Mas deve abster-se de fazer intervenções econômicas específicas. A principal função do governo é estimular e preservar o mercado livre. Quando Alexandre, o Grande visitou o filósofo Diógenes e perguntou-lhe se podia fazer alguma coisa por ele, diz-se que Diógenes respondeu: “Sim, fique um pouco menos entre mim e o sol.” É o que todo cidadão tem o direito de pedir ao seu governo. 

A perspectiva é sombria, mas não é inteiramente sem esperança. 

Aqui e ali pode-se observar uma abertura entre as nuvens. 

Cada vez mais as pessoas estão compreendendo que o governo nada tem para dar-lhes, sem primeiro tirar, o que lhes vai dar, de alguém, ou delas próprias. Vantagens aumentadas para grupos selecionados significam apenas impostos aumentados, ou déficits aumentados e inflação aumentada. E inflação, finalmente, atrapalha e desorganiza a produção. Mesmo alguns políticos estão começando a reconhecer isso, e alguns deles estão mesmo dizendo isso claramente. 

Além disso, há acentuados sinais de uma mudança nos ventos intelectuais da doutrina. Keynesianos e New Dealers parecem estar numa lenta retirada. Conservadores, partidários da doutrina do livre arbítrio e outros defensores da iniciativa livre estão tornando-se mais francos e mais articulados. E há muito mais deles. Entre os jovens, há um rápido crescimento de uma escola disciplinada de economistas “austríacos”. Há uma promessa real de que a política pública pode ser invertida, antes que os danos provenientes de medidas e tendências existentes se tornem irreparáveis. "

(HAZLITT, Henry. Economia numa única lição. Parte III)

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